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Saúde global e crises sanitárias: uma revisão integrativa da produção cientifica sobre as ações de enfrentamento as consequências econômicas da pandemia por covid-19

Em momentos de crises, com destaque para as crises sanitárias globais, é importante discutir alguns fatores que são negligenciados na agenda da saúde global, que de certa forma estão relacionados ao colonialismo e a falta de equidade nas relações políticas e socioeconômicas entre os países no mundo. O objetivo desse estudo é identificar na literatura científica as ações econômicas de enfrentamento a crise sanitária global causada pela Covid-19. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados SAGE Journals, Web of Science, Pubmed e Scopus. Para a construção da sintaxe de busca utilizou-se o fenômeno, a população e o contexto da pergunta de pesquisa: “Qual a relação entre as desigualdades econômicas e as ações construídas para o enfrentamento da pandemia causada pela covid-19 no cenário da saúde global?”. Foram selecionados 24 artigos científicos, publicados no ano de 2020 e escritos nos idiomas inglês, português e espanhol. Foram construídas categorias de análise para os artigos selecionados, que relacionavam a covid-19 com políticas públicas, meio ambiente e economia. Esta revisão integrativa da literatura mostra a multidimensionalidade dos aspectos relacionados à pandemia por COVID-19, mas considera que as discussões sobre as consequências econômicas e sobre as ações tomadas pelos gestores ao redor do mundo para conter essas consequências são um importante foco de estudo no contexto da crise sanitária mundial ainda pouco explorado.

Cozinhas comunitárias enquanto estratégia política de segurança alimentar, nutricional e combate à fome: uma revisão da literatura

Dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional mostram que 58,7% da população convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). Dentre as diversas intervenções que abordam a insegurança alimentar e o combate à fome estão as cozinhas comunitárias. Esta revisão integrativa da literatura tem por objetivo levantar na literatura científica os modelos de iniciativas de cozinhas comunitárias e identificar os tipos de impactos advindos destas iniciativas. Diante dos estudos revisados, infere-se que as cozinhas comunitárias têm potencial para se constituir uma eficiente política social de garantia de SAN e combate à fome. Este modelo de intervenção incorpora aspectos de coesão social, de saúde mental, de promoção à saúde e de empoderamento necessários para a reconstrução de nosso fragmentado tecido social e da nossa capacidade de enxergar a fome sem indiferença.

A reestruturação produtiva e os efeitos da organização e gestão contemporânea do trabalho na saúde do trabalhador

O estudo teve como objetivo verificar o que a literatura cientifica apresenta sobre a interferência da reestruturação produtiva na saúde do trabalhador. Diante do protagonismo do trabalho pretendeu-se demonstrar a relação prejudicial entre características inerentes à sua organização e gestão e o desgaste provocado nos trabalhadores. Após busca por descritores em ciências da saúde aderentes ao tema, foi realizada pesquisa na base de dados da LILACS e, com isso, 27 artigos foram selecionados. Foi observado que as doenças ocupacionais mais relatadas foram estresse ocupacional (70,4%) e distúrbios osteomusculares (59,3%). O desgaste físico e emocional (59,3%), frustração profissional (29,6%) e sinais de hipertensão (14,8%) foram as reclamações mais frequentes. No que diz respeito ao ambiente de trabalho, a rotina sobrecarregada e o baixo controle do trabalho lideraram os relatos. Ficou claro que as demandas do mercado atual, que exige cada vez mais responsabilidade, produtividade e dedicação dos trabalhadores, impõem a eles condições favoráveis para o seu próprio adoecimento.

A atuação das associações de pacientes na incorporação e na alteração de políticas públicas de saúde

As associações de pacientes constituem-se pelo agrupamento voluntário de pessoas motivadas por uma doença ou condição de saúde em comum. Em geral, este grupo de pacientes e familiares possuem múltiplos papeis de apoio, desde o assistencialismo, suporte emocional como também educacional, além de representarem os interesses do grupo a qual suportam seja em esferas políticas como também nas sociais, responsabilizando-se por levar a “voz” dos pacientes com o objetivo de fomentar pesquisas para o tratamento, bem como incluir ou alterar a legislação relacionada às doenças. Neste contexto, esta revisão sistemática incluiu 36 publicações, analisando as ações desenvolvidas pelas associações em âmbito nacional e internacional e sua atuação na incorporação e na alteração de políticas públicas de saúde, discutindo os conflitos de interesse presentes, os diversos atores envolvidos e desafios na busca para contribuir no progresso em saúde, seja em âmbito individual, mas principalmente no coletivo daqueles a qual representa e perante a sociedade enaltecendo o direito e dever da democracia. Entende-se que é de suma importância o trabalho desempenhado pelas associações e, portanto, sua atuação deve ser protegida e fortalecida frente a pressões de instituições privadas e públicas que possam vir a inibir e até mesmo extinguir este propósito.

Eficiência ou ineficiência da Organização Social de Saúde na gestão da Atenção Primária à Saúde (APS)

Este estudo teve como objetivo revisar o tema sobre a eficiência ou ineficiência técnica da Organização Social de Saúde (OSS) na gestão da Atenção Primária à Saúde (APS). Tratou-se de uma revisão integrativa cujo o objeto foi “eficiência ou ineficiência da OSS”. Utilizou-se das bases Lilacs e Scielo para realizar a busca e a sintaxe do estudo foi organizada de acordo com: população (atenção básica à saúde), fenômeno (eficiência ou ineficiência da gestão) e contexto estudado (serviços terceirizados ou OSS). Os artigos e teses com resumo, disponíveis em texto completo e em idioma português, inglês e espanhol, foram os critérios de inclusão, totalizando cinco artigos incluídos, dos quais 100% estavam indexados na base Lilacs. Os estudos analisados não definiram claramente a eficiência de gestão da OSS, porém mostraram que a adoção desse modelo de gestão foi facilitadora da expansão do acesso à APS, principalmente, por meio do aumento da cobertura potencial da ESF. Sugerem que a contratualização necessita ser aperfeiçoada com relação a negociação e a responsabilização com autonomia das entidades; que a avaliação e o controle na maioria das vezes não têm como foco os resultados; e, por fim, constatou-se uma fragilidade no incremento da transparência e do controle social. Faz-se necessário qualificar o debate da eficiência desse modelo na saúde, em especial, na APS, reconhecendo uma lacuna na avaliação de eficiência da atuação do setor não estatal.

A relação entre a educação em saúde de pacientes com diabetes e os gastos em saúde no setor público

O diabetes afeta mais de 420 milhões de pessoas mundialmente trazendo enormes custos materiais e imateriais para os Estados. Ao pensar na redução desses custos, em especial dos sistemas públicos de saúde, é preciso pensar em modelos que vão além, de apenas, a incorporação de novas tecnologias e medicamentos. O presente estudo pretende a partir de uma análise a qual revisão integrativa com abordagem qualitativa busca entender o impacto da educação em saúde dos pacientes com diabetes para os sistemas públicos de saúde. E assim demonstrar que a educação em diabetes é um importante componente na redução dos custos diretos e indiretos dos pacientes com diabetes, de modo que os Estados devem adotá-la em seus programas de saúde pública. Porém a limitada biografia existente sobre os custos do diabetes torna ainda mais complexa uma pesquisa que tem como objetivo entender a relação da educação em saúde do paciente com diabetes e os custos econômicos para a saúde pública.

Impacto econômico das políticas e ações públicas relacionadas aos distúrbios do sono no Brasil

Objetivo: Analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, os efeitos da dimensão econômica nas políticas e ações públicas para o tratamento do sono no Brasil. Método: Este estudo é uma revisão integrativa da literatura, que busca aprofundar a compreensão sobre um determinado fenômeno e fazer uma análise sobre o que existe de conhecimento em determinada área/tema. A revisão foi conduzida no período de aproximadamente seis meses (junho de 2020 a dezembro de 2020), através de três etapas: 1) planejamento e pré-teste, 2) identificação, 3) seleção e extração de dados. Resultados: Através da estratégia de busca, foram encontrados 775 artigos iniciais, dos quais 382 foram excluídos por duplicidade, 369 foram excluídos pois o PICO não atendia a pergunta inicial, 9 artigos não tratavam de impacto político e 13 artigos não tratavam sobre o impacto econômico. Dos três artigos restantes, nenhum deles trazia a perspectiva brasileira. Conclusão: Não existem estudos específicos para esta temática na literatura pretendida, bem como não existem medicamentos e equipamentos disponíveis no SUS para o tratamento destas condições. Recomenda-se a elaboração de estudos nesta área de atuação, bem como o desenvolvimento de uma linha de cuidado para o tratamento destas condições de saúde.

Quais são os fatores relevantes para adoção de medicamentos imunobiológicos e biossimilares pelos sistemas de saúde? Uma revisão integrativa

Os medicamentos biológicos constituem um grande avanço na tecnologia farmacêutica e terapia farmacológica, doenças debilitantes, potencialmente letais como a artrite reumatoide e o diabetes, passaram a ser controladas e hoje os pacientes levam uma vida normal. Estes medicamentos constituem os que mais oneram os sistemas de saúde, sendo responsáveis por custos crescentes. Neste contexto os biossimilares, moléculas altamente semelhantes aos medicamentos biológicos originadores, parecem ser uma alternativa para redução dos custos, sem perda de eficácia e segurança. O objetivo deste trabalho é avaliar quais os fatores relevantes para adoção destes medicamentos pelos sistemas de saúde. Para esta revisão integrativa foram utilizadas as bases de dados PubMed, Web of Science e BVS. Foram identificados 1186 artigos, que resultaram na seleção de 20 artigos, estes foram divididos em quatro categorias de análise: 1) desafios para adoção de biossimilares, 2) intercambialidade e farmacovigilância, 3) impacto orçamentário e 4) economia política. Esta análise permitiu a identificação dos fatores importantes para adoção de biossimilares.

Revisão integrativa: intercambialidade e aspectos farmacoeconômicos dos medicamentos biossimilares

Introdução: Os biossimilares são semelhantes a uma referência biológica que já recebeu autorização de comercialização como medicamento biológico. O objetivo dos biossimilares é reduzir custos, aumentando assim o acesso a esse tratamento, no entanto, discute-se muitas incertezas em relação a intercambialidade, qualidade, efetividade e principalmente segurança. Objetivo: Analisar a intercambialidade e suas possíveis vantagens econômicas dos medicamentos biossimilares em comparação aos medicamentos biológicos de referência. Método: Neste estudo optou-se por uma metodologia de revisão sistemática integrativa da literatura, a pesquisa dos artigos foi feita no Pubmed e selecionado 12 artigos que contribuem com os objetivos deste estudo. Resultados: Diversos estudos indicam que, em geral, o biossimilar e biológico de referência não apresentam diferenças significativas, demonstrando a similaridade em termos de eficácia clínica e segurança, assim como redução do impacto orçamentário gerado pelos medicamentos biológicos. Conclusão: Os biossimilares estarão cada vez mais presentes no futuro como arsenal terapêutico promissor, entretanto, questões relacionadas à farmacovilância, intercambialidade, substituição automática e extrapolação de indicações devem continuar a ser estudadas com estudos pós-comercialização e debatidos com as partes interessadas (sociedade médica, associações de pacientes, indústria farmacêutica, agências reguladoras e nas instâncias responsáveis pelas políticas de saúde).

Perspectivas sobre saúde baseada em valor: uma revisão integrativa da literatura

Introdução: Os sistemas de saúde na maioria dos países passam pela necessidade de modificações estruturais para superar tais desafios e continuar agregando qualidade na assistência à saúde e, ao mesmo tempo, manter os custos sob controle. Uma abordagem emergente de reestruturação do sistema de saúde para tentar equilibrar melhor essa balança onde custos e qualidade se contrapõem e manter a sustentabilidade a longo prazo é a aplicação prática da teoria de Saúde Baseada em Valor (em inglês, Value-Based Health Care ou VBHC). A teoria introduz o conceito de valor, definido como os desfechos em saúde que importam para o paciente sobre os custos para atingir estes desfechos (a “equação de valor”), trazendo consigo duas grandes preocupações: custos mais acessíveis e melhores desfechos aos pacientes. A saúde baseada em valor muda a perspectiva do sistema de saúde, baseada na atividade dos profissionais de saúde e remuneração por ato médico, para um sistema centrado no paciente e organizado em torno do que este precisa, avaliando os seus desfechos como medida de qualidade. Embora nenhum país tenha implementado completamente na prática o modelo de saúde baseada em valor, é evidente que diferentes elementos da abordagem teórica funcionam melhor em alguns sistemas de saúde do que em outros. Características como o tamanho da população assistida, capacidade estrutural e tecnológica e como os governantes e gestores estão envolvidos na organização e financiamento destes sistemas possuem grande influência na adoção de saúde baseada em valor. A mudança do modelo de atenção à saúde exige grande esforço e aprendizado durante o processo de transformação. O esclarecimento sobre como essa teoria é compreendida, adaptada e aplicada em contextos de mundo real podem ser de grande relevância para que os atores envolvidos possam compreender a dinâmica da adoção e criar estratégias para iniciar, acelerar ou escalonar iniciativas de implementação de saúde baseada em valor em organizações de saúde. Objetivo: Analisar na literatura científica a implementação de iniciativas de saúde baseada em valor, considerando os elementos e estratégias a serem usados e sua viabilidade de implementação no sistema único de saúde brasileiro. Metodologia: Este estudo é uma revisão integrativa da literatura, que teve como questão norteadora para a sua elaboração “O que a literatura científica apresenta sobre a implementação de saúde baseada em valor em serviços de saúde?”. O levantamento bibliográfico foi realizado através de buscas nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Public Medline (PubMED), SciVerse Scopus (Scopus), Embase e Web of Science. Para construir a estratégia de busca a partir da questão norteadora da revisão, foram selecionados descritores DeCS e MeSH no idioma inglês e também termos correlatos. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos completos e originais
disponíveis em inglês, publicados a partir de 2006. Os critérios de exclusão foram: publicações que não possuíam resumo indexado na base de dados ou que não se adequassem à temática proposta. Na primeira etapa da pesquisa, foram identificados um total de 326. Após as etapas de identificação e triagem permaneceram 12 artigos incluídos na revisão. Resultados: Por meio da leitura dos artigos foi possível identificar os principais elementos priorizados na implementação de iniciativas de VBHC, com os estudos empíricos obteve-se a descrição dos componentes incorporados na implementação e com os estudos teóricos as propostas de implementação apresentadas: coleta e integração de dados; individualização do cuidado e centralidade no paciente; elaboração e disseminação de linhas de cuidado; papel dos profissionais de saúde; investimento em tecnologia da informação; modelos de remuneração alternativos; envolvimento e alinhamento de partes interessadas; estratégias de implementação e monitoramento. Conclusão: Ao analisar a literatura, observa-se que o conceito de VBHC apresenta uma grande variabilidade interpretativa, sendo fortemente influenciado pelo contexto de implementação. Observa-se também uma importante fragmentação na aplicação do conceito, distanciando-se de uma estratégia integrativa e aproximando-se de uma estratégia “guarda-chuva” onde um ou dois elementos são implementados. Assim sendo, a análise e identificação dos principais elementos envolvidos na implementação de iniciativas de VBHC traz importante relevância para os debates acerca deste conceito. No Brasil, um país continental onde as desigualdades e o acesso à saúde ainda são relevantes entraves, a implementação de um conceito como a saúde baseada em valor parece desafiadora e utópica. Porém, já são contemplados iniciativas e esforços de instituições influentes no país aspirando o valor em saúde. Os aprendizados com experiências nacionais e internacionais e o contínuo envolvimento e engajamento de todas as partes interessadas podem auxiliar a mitigar as barreiras de um caminho por um sistema de saúde mais sustentável e centrado nos pacientes.