Uso da inteligência artificial aplicada ao processo decisório na alocação de recursos na saúde pública do Brasil: Revisão integrativa da literatura

Resumo

A Constituição Brasileira (1998) expressa o direito e o acesso universal à saúde, mediante políticas sociais e econômicas pelo Estado. Já a Lei 8.080/1990 institui e regulamenta os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), financiado pelo orçamento da seguridade social. Entretanto, observa-se um processo crescente de subfinanciamento e desfinanciamento da saúde pública no país, agravado pela desoneração fiscal e por critérios não técnicos na alocação dos recursos, bem como por aspectos clínicos e epidemiológicos da população. Paralelamente, o Big Data, novas tecnologias de informação e a inteligência artificial (IA) têm impactado a humanidade, sobretudo o ecossistema da saúde, em setores como gestão, pesquisa e planejamento, hospitalar, diagnóstico, mas também, a alocação de recursos na saúde pública. Em outra vertente, emerge uma nova cultura organizacional, de processos decisórios orientados a partir dos dados, objetivando-se melhorias na eficácia, na equidade e da eficiência dos sistemas e processos organizacionais. Nesse contexto, foi realizada uma revisão integrativa com o objetivo geral de se identificar o que a literatura nacional relata a respeito do uso da IA no suporte ao processo decisório para alocação de recursos na saúde pública brasileira, com trabalhos publicados até 25/03/2023. Como objetivos específicos, foram definidos: a) Identificação das bases de dados em saúde pública atualmente disponíveis e utilizadas no suporte ao processo decisório; b)Investigação sobre quais as principais ferramentas em IA atualmente utilizadas na saúde pública do Brasil, dentro do processo decisório para alocação de recursos públicos; c) Análise e discussão dos resultados e dos impactos assistenciais, gerenciais e financeiros observados, a partir da utilização das ferramentas de IA atualmente utilizadas no processo decisório para alocação de recursos na saúde pública do Brasil. As bases de dados pesquisadas foram: PUBMED, Embase, Scopus, SciELO, Web of Science e BVS. Somente artigos nos idiomas inglês, português ou espanhol, realizados no Brasil, foram selecionados. Foram excluídos editoriais, cartas ao redator, capítulos de livros, revistas e/ou reportagens não científicas, anais de conclaves científicos e arquivos sem acesso livre. Os itens chaves definidos foram: Inteligência Artificial (polo fenômeno), Alocação de Recursos/Processo Decisório (polo contexto) e Saúde Pública (polo população). Foram recuperados 223 artigos, dos quais 05 foram selecionados para revisão. Da análise dos artigos selecionados, observam-se experiências pontuais, como o uso de dados e plataformas tecnológicas próprias e públicas de apoio a gestão, com sistemas de recomendação e processamento de linguagem natural para apoio ao planejamento, às ações e à avaliação da gestão, aplicação de algoritmos a imagens de satélite, mapeamento de tendências espaço- temporais, mineração em base de dados em saúde, análises utilizando redes neurais profundas, predições com base em dados históricos, auxiliando os gestores na tomada de decisão para realocação de recursos hospitalares e otimização das estratégias de controle de enfermidades. Conclui-se que, no Brasil, a IA já obteve progressos a partir do uso das tecnologias vigentes, com iniciativas e programas voltados para gestão, eficiência e otimização dos recursos, mas não se observam políticas de Estado com a IA voltadas para decisões e alocação de recursos públicos em saúde.
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