A disseminação global da Covid-19 foi a maior catástrofe sanitária do século XXI até agora. O
primeiro caso diagnosticado no Brasil surgiu no final de fevereiro de 2020, três meses depois
do aparecimento do novo coronavírus na China. Apesar dos relatos da evolução acelerada da
doença em países desenvolvidos o Brasil não conseguiu se organizar para evitar a sobrecarga
do sistema de saúde (SUS). O país foi responsável por 10% dos óbitos por Covid-19 após três
anos de pandemia, tendo menos de 3% da população mundial. A demora na análise de
evidências, a falta de adesão a medidas de prevenção do contágio, o negacionismo, a ingerência
do Governo Federal na estratificação de planos de resposta envolvendo os três níveis de
assistência à saúde e as disparidades regionais de infraestrutura hospitalar existentes foram
determinantes na resposta insuficiente do SUS, cronicamente subfinanciado. As regiões Norte
e Nordeste, sabidamente com piores indicadores de saúde, tiveram maiores taxas de mortalidade
por Covid-19, mesmo tendo população com menos fatores de risco para a doença. É
imprescindível reorganizar a governança do SUS, criar planos de catástrofe que levem em
consideração as peculiaridades territoriais e diminuir a desigualdade socioeconômica brasileira
para proteger os mais vulneráveis.